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Cognição Social em Insetos

Kárenn Santos





A associação entre inteligência e seres humanos, ou inteligência limitada à vertebrados, pode ser muitas vezes automática ou involuntária. Mas estes não são os únicos seres inteligentes e com capacidade cognitiva existentes. Estudos comprovam que insetos podem apresentar características de inteligência social e estados de emoções, tais quais encontradas em sociedades de vertebrados.

Não surpreendentemente, em insetos sociais podemos encontrar níveis avançados de organização, arquiteturas, comunicação e formas de tomada de decisão. Os insetos dão preferência para conhecimentos socialmente obtidos ao invés dos adquiridos individualmente de forma flexível, variando com contexto, assim como os vertebrados. Entretanto, Darwin investigou mostrando que, em insetos sociais, existe uma harmonia entre instintos complexos e inteligência, diferentemente do que ocorre com os outros animais, onde estão inversamente relacionados. Mas como os insetos inovam seus comportamentos e repassam seus aprendizados?


O que os insetos sabem sobre co-específicos individuais?


Anteriormente se acreditava que insetos não exibiam comportamento de reconhecimento individual, fazendo apenas distinções sobre membros pertencentes ou não a um determinado grupo. Entretanto, essa percepção foi contestada num estudo feito por Elizabeth Tibbetts (2002), que mostrou que algumas espécies de vespas de papel distinguem visualmente seus parceiros de ninho baseado em marcas faciais e abdominais (Figura 1A). Nessa espécie, as rainha lutam para se tornar a fêmea alfa, e o reconhecimento dos indivíduos tem suma importância para que os confrontos sejam menos custosos. Isso se dá pela capacidade das vespas de aprender sobre a força do seu oponente, apenas por observação (Figura 1B).

Além disso, no estudo feito por Elizabeth Tibbetts, observaram que vespas de papel são capazes de deduzir relações desconhecidas entre itens, baseados em relacionamentos conhecidos, como observar que o indivíduo A é mais forte que B e B mais forte que C, então ele segue que A também é mais forte que C (Figura 1C). E a identificação dos coespecíficos individualmente, é uma característica parcialmente adquirida durante o desenvolvimento, pois é sabido que vespas submetidas a um isolamento social no início da vida adulta não desenvolvem habilidades de reconhecimento facial.


Emoções de insetos em um contexto social?


Estudos apontam que insetos exibem estados positivos e negativos semelhantes à emoção. Em insetos sociais aderem estados afetivos positivos a estar com os “recém-nascidos”, o bem-estar do ninho, e construção de estruturas funcionais; e estado afetivo negativo, por exemplo, quando há danos à sua colônia, falta de recurso no ninho, e ataques por predadores. É possível testar empatia nos insetos sociais, em relação aos companheiros de ninho quando o vêem feridos, e subsequentemente os resgatam.





Figura 1. Cognição e reconhecimento individual em vespas de papel Polistes. (A) Retratos de quatro Polistes fuscatus (Tibetts et al. 2002); (B) Escuta social para avaliar potenciais rivais; (C) Teste para inferência transitiva. Lars Chittka & Natacha Rossi (2022).


Esse comportamento de resgate é encontrado em formigas (Figura 2), por exemplo, onde formigas resgatam parceiros de ninhos que estão colapsando, ou de predadores, pois indivíduos resgatados aumentam a chance de sobrevivência e, caso ocorra, auxiliam no bem da colônia. Um problema na investigação sobre emoções nos animais é que a referência é baseada em humanos, e por existir uma diferença nos sistemas sensoriais entre os animais, de acordo com seu meio ambiente e suas necessidades, espera-se que os estados afetivos sejam diferentes daqueles conhecidos por humanos.



Figura 2. O comportamento de resgate de formigas presas pode envolver resolução de problemas físicos e empatia. Lars Chittka & Natacha Rossi (2022).


Cultura e tradição em insetos?


Estudos feitos com abelhas, a fim de entender se é possível monitorar como/se ocorre difusão de comportamentos não naturais em insetos, como estratégias de resolução de problemas que normalmente não são exibidas na natureza, mostraram ocorrência de aprendizado associativo e aprendizado de tentativa e erro. Essa conciliação de comportamentos foram considerados suficientes para propagação cultural de técnicas de forrageamento entre abelhas. Em estudos mais recentes, observaram que essas características podem estar relacionadas com a sapiência das abelhas em aprender técnicas para chegar a determinado resultado. Com isso, esse aprendizado intencional pode ser um ponto importante para disseminação cultural de novas técnicas de manipulação de objetos por esses insetos. Mas a capacidade de aprendizado e associação consciente com os resultados não se limita a insetos socialmente próximos, mas foi encontrada também em moscas das frutas. E essas habilidades nos insetos se possivelmente se propagam e são mantidas por gerações, podendo assemelhar com cultura.


Conclusões


Os insetos possuem capacidades cognitivas importantes para se comunicar, aprender com os os co-específicos e disseminar as técnicas aprendidas. Essas características podem ser importantes para compreensão de sua evolução passada e possíveis trajetórias evolutivas futuras. Entender sobre cognição social em insetos é entender como os comportamentos podem inovar e como essa aprendizagem social pode ser reproduzida ao longo do tempo. Além disso, insetos podem apresentar estados de emoções, ligados a comportamento e aprendizados sociais. Todos esses achados podem ter começado de forma individual, porém disseminado culturalmente, fortalecendo o fato de que a inteligência e a capacidade cognitiva não são uma característica restrita aos vertebrados.



Referência: Lars Chittka & Natacha Rossi (2022). Social cognition in insects. Trends in Cognitive Sciences. 26:578-592. DOI: https://doi.org/10.1016/j.tics.2022.04.001


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